Esclarecimento inicial: fiz análise durante dezesseis anos. Saí porque tive alta. Portanto digo que é uma vivência rara e me digo parabéns, você é uma bípede corajosa, curiosa, dedicada e resistente.
E digo sem constrangimento porque conhecer a própria essência, encarando defeitos e virtudes, é um desafio tão árduo como escalar uma montanha. A diferença é que a escalada, com a orientação de um terapeuta, se dá para o lado de dentro.
E não estou falando do lado B de cada um de nós.
A gente tem muito mais que dois lados.
Estou falando de percorrer o alfabeto inteiro, todas as facetas, os conflitos e os poemas que somos.
Crescimento não vem com prazo de validade. A gente pode se superar, reencontrar, reinventar a qualquer tempo.
Do lado de dentro, de conflitos e de poemas entende e muito o psicanalista Carlos Vieira, autor do recém lançado livro Psicanálise da Vida Cotidiana, editora Technopolitik, de Brasília.
Carlos é colunista no Blog do Moreno, no site da Globo.com desde 2011. E Carlos, além de profissional respeitado em seu meio, é também um leitor voraz, um homem culto e sensível à arte e à responsabilidade das palavras.
Conta ele na página 164: Freud certa vez afirmou que, depois de tudo aquilo que ele observou, pesquisou e desenvolveu em sua filha - a Psicanálise - "os poetas haviam chegado antes". Literatura e Psicanálise são dois vértices de observação dos fenômenos conscientes e inconscientes da alma humana e do coletivo.
E eu com a minha bipedice assino embaixo.
Minha busca primeira em qualquer leitura é sempre a psíquica. E aqui não falo só de livros. Falo de ler o mundo e as pessoas também. Não me seduzem os detalhes exteriores e aparentes de nossas vitrines humanas.
Dispenso as embalagens e frufrus.
Gosto do substrato, do que, camuflado ou não por olhos de Capitu, repousa nos estoques.
E esse livro do Carlos, de certa forma, é um estoque de sabedoria.
O poeta Affonso Romano de Sant'anna em uma entrevista afirmou: o escritor tem uma relação com a palavra como se ela fosse um ser vivo. É uma relação vital.
Pois bem, Carlos é um psicanalista e é um escritor. E dos bons.
O Psicanálise da vida cotidiana é um corpo vivo.